quinta-feira, 7 de maio de 2015

Mãe: nenhum parágrafo e muito amor.

Mãe deveria não morrer nunca. Deveria ser imune à finitude da vida. Ah, braços que aquecem, lábios doces que deixam nossos dias mais leves... Com uma palavra, muitas vezes é capaz de fazer o que poucas terapias conseguem. Amor verdadeiro que nos agarra nos primeiros passos impedindo-nos de grandes machucados. Sim, porque até nos permite alguns desafios entendendo que são necessários, mas grandes aventuras?! Isso não passa pela cabeça de nenhuma delas. E quando nos oferece o brilho do mais lindo olhar, ainda que possa estar velhinha, com olhos cansados, nos enxergam feito águias. Perscruta nosso coração, sem a intenção de invadi-lo, apenas para varrer de lá qualquer lixo que possa nos desassossegar, que possa sujar nossos bons sentimentos.Nos dias de frio nos agasalha, nos de calor, sopra dos lábios um ventinho suave, aliviando nosso cansaço. Se tímida, torna-se a mais eloquente oradora em defesa do filho. Se falante, quando necessário fica em silêncio à espera do momento oportuno. Mãe é contradição. Se não alfabetizada, encontra as palavras certas. Procura no dicionário da vida, a melhor história para contar. E o que dizer das desafinadas, que não se importando com isso invadem a vida do filho com os melhores acordes musicais. Sim, porque para o filho não tem voz mais afinada na hora de embalar seu sono. E o que dizer das raquíticas, que mal ficando em pé, seguram o filho por horas, não se importando com o peso que as impedem até de respirar? Não importa a situação econômica, mãe está sempre ligada aos filhos. Quantas mães choram por não poder propiciar aos filhos uma mínima qualidade de vida. Quantas choram por filhos que se perdem de si, que percorrem caminhos errados. As derrotas de um filho são derrotas de uma mãe, assim como cada vitória é comemorada com absoluta alegria. E quando falo em mãe, falo em todas que assim se sentem. E o que dizer das mães que sem um companheiro, se fortalecem todos os dias para suprir a cadeira vazia do conselho, do carinho, do apoio. Me perdoem as que discordam dessas simples palavras, afinal, sabemos que antes de ser mãe vem a mulher, e que todo ser tem sua singularidade. Estou considerando uma maioria, uma experiência vivida, sentida. "Mãe é mãe", e considere essa afirmação não como um paradigma sustentável por uma orientação divina. Mãe é mãe, porque encerra até mesmo na sua forma de errar, um não sei quê de amor. Mãe é mãe, porque é mãe... Sabe-se lá onde arranja tanta força. E muitos estão se perguntando; E os defeitos? Aí respondo: Mãe tem defeitos, mas os efeitos que causam em nossas vidas não são esquecidos. Não esquecemos o cheirinho de cada uma, os abraços, os sorrisos, os "puxões de orelha", as lágrimas, o amor. Como te esquecer mãe, se a melhor parte de mim é você?

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Recortes

Em mim guardo recortes do passado, pequenas memórias na tentativa de não me perder no labirinto das intencionalidades. Busquei sempre que possível, compreender que algumas feridas precisam ser abertas, avaliadas, cuidadas, e só assim cicatrizadas. Não me deixo enganar por atitudes carregadas de intencionalidades, de pesados enfeite, de manobras maquiadas. Sou flor que se deixa cheirar, mas corre o risco quem for alérgico a certas verdades, a um tom inevitavelmente debochado. Gosto de gente que não se incomoda em andar com leveza, em dizer a que veio, que enxerga os detalhes da vida, e que não faz da vida apenas um detalhe. Gosto de gente com cheiro de gente. Sabe aquela coisa de abraçar sem medo? Não blindo sentimentos.

Rua e Movimento

As ruas cheiram a suor, a saliva, a sexo. Porque as ruas comportam todos os olhares, todos os gestos, todos..., os notados, mas principalmente aqueles despercebidos. Porque pelas ruas transitam principalmente os despidos de amor, de pão, de educação, de saúde, de moradia. A rua como o homem, nasce do prazer, dos interesses, do suor. A rua recebe como pode, não importa se de noite ou de dia. A rua tem coração duro, mas acolhe em suas brechas quem por ela pode passar. Porque passar pelas ruas é como passar pela vida. Ora é preciso parar dando ao outro lugar. Ora é preciso esperar para ser visto por pessoas, que como carros blindados, estão imunes ao clamor dos que pelas ruas passam. "Eles" blindam o coração, blindam a razão, e esquecem que em algum momento o sinal fica verde e a esperança como gafanhotos, invadem a cidade e devorando o silêncio dos injustiçados, faz brotar do asfalto sem vida, sem seiva, um grito de alerta, de atitude, de concretude.

domingo, 23 de setembro de 2012

Sou?

Sou o tom
Sou o som
Sou a luz e escuridão.
Sou inverso e reverso
Sou idas e vindas
Sou atos em processo.
Não sou intenções sem acessos
Porque sou o que em mim compreendes
E se assim não entendes
É porque nada sou.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Estranho

O homem não é reconhecível a si próprio, porque a sua vida consiste em esforços alternados para ser o que não é. Há uma busca constante em trilhar novos caminhos, em esconder-se de si e dos outros, em negar as suas dores, em trocar de lugar com os vários eus que habitam em si. Procura mostrar-se de forma incompleta, escondendo o que mais em si agrada e mostrando-se agradável aos outros. Torna-se um duplo desconhecido, porque ao negar-se, se perde um pouco de si, e ao mostrar o que não é engana o outro. O outro muito elegantemente o acolhe e não sabe que está acolhendo um completo estranho. E nessa farsa cotidiana, o eu mais primitivo vai se distanciando dos novos eus,que são criados por uma necessidade pessoal e social de aceitação. Um belo dia voltamos e procuramos nos vários recantos do ser o que antes parecia de verdade. Tarde demais; tornamo-nos tão desconhecidos quanto aqueles a que queríamos enganar. E nessa luta pela sobrevivência, salve-se quem puder. Eu espero sinceramente que em mim habite pelo menos um eu que me agrade. Quantos aos outros eus , os acolho ( desde que me permitam desafiá-los todos os dias incansavelmente) .

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O que é o tempo

Passo os dedos por entre os cabelos e cada movimento é antecedido por um sentimento de espera. Não que isso seja proposital, mas a essência do gesto carrega em si uma tranquilidade aparente, um certo conforto. O telefone toca e o gesto é descontinuado, dando-me a sensação de que por instantes, o tempo havia parado. Aí percebo que o tempo não é um receptáculo de instantes, não é a distância entre um presente, um passado, um futuro. É o movimento interno dos entes para reunirem-se consigo mesmos e para diferenciarem-se de si mesmos. Não estou no tempo mas sou temporal, porque o tempo é a produção do sentido e dos seus significados.O corpo tem lembranças: cheiros, toques, mudanças.O corpo tem como base a temporalidade. Quando vivencio o meu presente, ele se apresenta em uma situação na qual sinto, faço, penso. Quanto ao meu passado, percebo que as possibilidades existiam. Algumas se concretizaram, outras não. No presente sou capaz de perceber novas possibilidades. Aqui, há uma abertura. O meu futuro poderá ser se as possibilidades presentes se concretizarem. Quem pode controlar as diferentes formas de sentir? O que é o tempo senão o significado do que é vivenciado? Nossos tempos são diferentes porque somos singulares. Portanto, o bom senso é necessário quando se trata de dispor do tempo do outro. Alguns são velozes, outros muito lentos. Cada um no seu compasso.

domingo, 19 de agosto de 2012

Eu e os Outros

Morar dentro de nós e buscar-nos nos outros que estão fora, é uma tarefa  que exige loucura e lucidez ao mesmo tempo. Loucura porque muitas vezes é preciso romper com tudo que se é, para compreender o outro. Lucidez porque ao voltar , a visão do que foi deixado na partida de encontro com o outro torná-se confusa e nem sempre agradável. Algumas certezas sofrem abalos, algumas incertezas tomam um rumo inesperado, dando-nos a impressão de que não mais existimos e que teria sido melhor uma clausura permanente. Aí olhamos bem pra dentro de nós e começamos a nos reconhecer no que fora estava. Fazemos um passeio pela nossa história e várias faces vão surgindo. Aos poucos vamos nos recompondo e aliviando as perdas iniciais quando resolvemos morar , mesmo que por pouco tempo fora de nós. As surpresas continuam, quando nos reconhecemos mais e mais nos outros. Esse reconhecimento muitas vezes está nas diferenças e não nas semelhanças. O outro nos recria, nos faz nascer de novo.O sujeito não está mais centrado no "Eu penso", nem no Ser, nem na dúvida, mas descentrado pela alteridade do outro. Não se trata mais de uma questão de "Eu penso, logo existo", mas sim eu existo no outro e o outro existe em mim.E essa existência nos indica o caminho da responsabilidade na construção de uma vida onde se possa compartilhar forças e fragilidades, encantos e desencantos. Diferentes pontos e diferentes linhas devem nos permitir morar dentro de nós mesmos, e sair vez por outra, não nos tornando reféns, já que morar em nós mesmos, deve nos permitir um sentimento de liberdade e prazer.