domingo, 29 de julho de 2012

O PODER DE UM SÓ DIA?

Outubro está bem próximo e com ele novas e velhas decisões. Novas, porque a realidade é processual e portanto exige de nós um comportamento propiciador de mudanças inauguradoras de uma melhor qualidade de vida para todos os municípios. Velhas, porque esquecendo-nos de tantos erros cometidos por alguns representantes municipais(prefeitos e vereadores), preferimos não sentir as dores causadas por representantes sem o menor compromisso com a população e continuamos como que imunes à tanta irresponsabilidade. É costumeiro ouvirmos que isso faz parte da política. Essa afirmação me deixa muito irritada e ao mesmo tempo me faz pensar a questão do poder na sociedade e de que forma tal poder está distribuído.  Conforme assinalou o filósofo político italiano Norberto Bobbio, o conceito moderno de política está estreitamente ligado ao poder. O poder econômico, o poder ideológico, o poder político. Como se dá o poder do homem sobre outros ? Como é possível se produzir efeitos desejados? Qual seria o poder mais eficaz?  São questionamentos importantes num momento onde somos bombardeados de promessas, de projetos que não sairão das gavetas ou dos computadores. Precisamos analisar as propostas concretamente. Sabemos que a paixão, a empolgação por alguns candidatos muito bem orientados, nos impedem, como uma cortina de fumaça, de perceber os verdadeiros interesses em questão. Mas se o poder permeia toda a sociedade e se fazemos parte da mesma , temos o poder de interferir no processo político, já que vivemos em uma democracia(pelo menos formal), e podemos também de forma direta, indicar quem vai nos representar . Vale salientar que como se expressava o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht: não digam nunca: isso é natural diante dos acontecimentos de cada dia... numa época em que reina a confusão. Em que o arbitrário tem força de lei. Em que a humanidade se desumaniza. Eu diria também: em que aqueles que indicamos para nos representar nos esquecem, usurpam o poder sagrado de cada cidadão de se perceber, pelo menos em um momento como partícipe das decisões tomadas em prol de sua cidade. 

domingo, 22 de julho de 2012

IDENTIDADE


Há alguns dias precisei de um novo RG(mais conhecido como carteira de identidade). Foi bem interessante, já que estava em Iguatu para resolver algumas pendências cotidianas e o tempo de que dispunha era pouco. Fui ao local indicado e constatei a eficiência do serviço prestado. Mas o interessante não vem de tal eficiência, o que até poderia ser, levando-se em conta as dificuldades acarretadas pela burocracia brasileira. O interessante foi a dificuldade para "registrar" minhas impressões digitais. Como a temperatura estava alta e o meu estresse era grande em função do pouco tempo a ser administrado, comecei a suar e as minhas mãos deveriam estar aptas à receber aquela nova tecnologia. Como passei dos quarenta anos, na época em que fui tirar minha identidade, os dedos eram embebidos numa espécie de graxa o que me dava a verdadeira dimensão de como seria difícil mudar qualquer coisa a partir daquele momento, pois chegando em casa nem o sabão mais eficiente conseguiu livrar meus dedos de tal substância. De volta à Fortaleza vim refletindo sobre o que vem a ser identidade e brincando com um companheiro de viagem falava de que eu era tão difícil de ser decifrada que até as minhas impressões digitais escapavam da nova tecnologia. Como cientista social, faço uma analogia sobre as digitais "tiradas" no passado e as "tiradas" no presente. As digitais são as mesmas, mas a pessoa não. Assim é a nossa identidade. Construímos e desconstruímos diariamente a nossa visão de mundo, do que nos rodeia. "A identidade é definida como algo que traduz, por um lado, a permanência do objeto único ou do seu atributo, através das mudanças, que produzem em si como em seu redor; por outro lado, exprime a similitude de dois objetos distintos ou de tais ou quais aspectos de seus atributos". Penso que identidade e humanização caminham juntas, e que a construção do humano só é possível com a condição de que tenhamos a cultura e o tempo como uma maneira de significar a realidade. Como as digitais imprimem unicidade, o sujeito ao apropria-se da história imprime a esta sua marca.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Agentes de saúde


O tempo é um verdadeiro professor na arte de colocar ou tirar do lugar pensamentos bons ou não. Hoje tive o prazer de ouvir agentes de saúde com as quais trabalhei, quando coordenadora do PSF, em Cedro. Fiquei feliz por constatar que uma convivência saudável, carregada de entusiasmo, compromisso com o indivíduo e a coisa pública, nos oferece o suporte necessário para as lutas cotidianas. Muito aprendi e acredito que também ensinei. As palavras ouvidas me deram mais uma vez a certeza que procurar dar o melhor de si não é em vão.Buscar em cada pessoa os desejos escondidos, transformá-los em práticas propiciadoras de qualidade de vida é possível, levando-se em conta as limitações materiais, cognitivas, sociais. Tenho por todos os agentes de saúde com os quais trabalhei um grande respeito, pois desde o início-1993 em Iguatu e de forma intensa de 97 a 2005 em Cedro, pude avaliar a importância desses profissionais na condução, na participação de ações que contribuem para a qualidade de vida da população.Aqui não estou desmerecendo o trabalho de todos os membros da equipe do PSF, mas não posso deixar de registrar o grande papel desempenhado por essas e esses guerreiros que fazem parte de um universo bem maior do que é imaginado pela maioria das pessoas ligadas ou não aos sistemas de saúde. Ser agente de saúde é antes de mais nada ser agente de mudança. É saber como diz uma música, a dor e a delícia de ser o que é. Dor, quando ao lidar com tantos problemas se percebe impotente e se angustia por não poder resolvê-los. Alegria, quando desafia as impossibilidades e cria saídas para problemas que pareciam ser obstáculos intransponíveis. Ser agente de saúde, é ser sujeito e objeto de ações, já que ao viver nas áreas onde atua o mesmo participa de todo o processo de construção social. Ser agente de saúde é sentir que o sol não está tão quente a ponto de queimar seus "miolos" e que o frio não pode congelar seu coração. 

Ser agente de saúde é viver na corda bamba dos comportamentos instáveis. É lidar com o que tem uma fé intensa e com aquele que é ateu. É lidar com todas as faixas etárias e com toda a complexidade que estas acarretam. É lidar inclusive com quem ainda está no útero da mãe. Enfim ser agente de saúde é tarefa difícil e de muita responsabilidade. Mas não se engane : agente de saúde não é só agente, é gente e merece de toda a população o prestígio que ao mesmo deve ser conferido. Confira se você está colaborando com o seu agente de saúde e procure apoiá-lo quando ele não estiver em um dia tão bom, afinal todos vocês fazem parte de uma mesma comunidade e muitas vezes de uma mesma família, com todas as dores e as delícias que isso possa conter.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

''Cada um no seu quadrado"

Durante toda a minha caminhada como professora de sociologia, procurei aprender com os meus alunos qual o verdadeiro sentido do processo de aprendizagem. Muitas vezes me deparei com situações impositivas , carregadas de vícios hierárquicos os quais tinham como proposta inicial o esquecimento de que  a escola é o local do trabalho docente, e que a organização escolar é também espaço de aprendizagem da profissão, na qual o professor põe em prática suas convicções, seu conhecimento da realidade, suas competências pessoais e profissionais, tendo muitas vezes que aprender novos saberes e trabalhar a desconstrução de outros. Percebi que a sala de aula não pode ser mensurada em um espaço físico, considerada em um quadrado que mais aprisiona que liberta. Professores e alunos, fazem parte de uma realidade maior, exigindo um processo dialógico constante, o qual supõe a compreensão dos significados.Muitas vezes é preciso descentralizar o olhar para nos perceber e perceber o outro. Algumas vezes consegui, outras não.Uma coisa é certa: busquei em cada aluno o sentido do humano, propiciei em vários momentos o início de uma atitude crítica frente à realidade e as teorias que eram analisadas.Sabedora das dificuldades dos alunos muitas vezes me angustiei por entender que não podíamos abrir mão de leituras importantes e nem tampouco fazer de conta que o conteúdo programático estava sendo aplicado de maneira  
orientadora à ação. Sofri e me deliciei com todos os desafios inerentes à descoberta de novos caminhos e novas caminhadas. O importante é que não me aprisionei e não me ''enquadrei' em posicionamentos absolutos, entendendo que o aluno não é um consumidor passivo de conhecimento, e sim um produtor ativo de significados.

Presença

Sua presença vem lembrar-me que a distância entre nós continua. É paradoxal, mas a sua ausência torna-o mais presente, porque distante, a mim é permitido pensar e fazer de nós tudo que o pensamento me possibilita.

Escrito em 2000

Bem querer

Quero ver você
Você com seu afago
Eu com minha sede
Você com seu abraço
Eu pedindo amor
Você dando paixão
Eu querendo respeito
Você tendo tesão
Eu dizendo não
você dizendo sim
Eu querendo aguardar
Você querendo já
Mas eu peço amor
Você pede paixão
Ou eu guardo o que sinto
Quando você diz não?
Mas eu vou decidir
Ou eu vou esperar?
Será que vale apena
Querer poder ficar?
Será que não consinto
Esse seu grito louco
Ou será que apenas sinto
E amanhã resolvo?
Pobre dos mortais
Quer mais e subtrai
Divide quando quer somar
Nega quando quer amar.

existência

Sempre pedem muito daquilo que não somos...
Sempre dispensam muito daquilo que somos...
Não somos o que nos é pedido
e muito menos deixamos de ser o que nos é dispensado.
Somos qualquer coisa.
Iguais nas nossas diferenças,
Igualmente impotentes em diferentes faces.
Por isso não cobrem o que não tenho,
e não queiram fazer-me segundo as suas orientações ideológicas.
Deixem- me ser , e já fazem assim muito por mim.