domingo, 23 de setembro de 2012

Sou?

Sou o tom
Sou o som
Sou a luz e escuridão.
Sou inverso e reverso
Sou idas e vindas
Sou atos em processo.
Não sou intenções sem acessos
Porque sou o que em mim compreendes
E se assim não entendes
É porque nada sou.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Estranho

O homem não é reconhecível a si próprio, porque a sua vida consiste em esforços alternados para ser o que não é. Há uma busca constante em trilhar novos caminhos, em esconder-se de si e dos outros, em negar as suas dores, em trocar de lugar com os vários eus que habitam em si. Procura mostrar-se de forma incompleta, escondendo o que mais em si agrada e mostrando-se agradável aos outros. Torna-se um duplo desconhecido, porque ao negar-se, se perde um pouco de si, e ao mostrar o que não é engana o outro. O outro muito elegantemente o acolhe e não sabe que está acolhendo um completo estranho. E nessa farsa cotidiana, o eu mais primitivo vai se distanciando dos novos eus,que são criados por uma necessidade pessoal e social de aceitação. Um belo dia voltamos e procuramos nos vários recantos do ser o que antes parecia de verdade. Tarde demais; tornamo-nos tão desconhecidos quanto aqueles a que queríamos enganar. E nessa luta pela sobrevivência, salve-se quem puder. Eu espero sinceramente que em mim habite pelo menos um eu que me agrade. Quantos aos outros eus , os acolho ( desde que me permitam desafiá-los todos os dias incansavelmente) .

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O que é o tempo

Passo os dedos por entre os cabelos e cada movimento é antecedido por um sentimento de espera. Não que isso seja proposital, mas a essência do gesto carrega em si uma tranquilidade aparente, um certo conforto. O telefone toca e o gesto é descontinuado, dando-me a sensação de que por instantes, o tempo havia parado. Aí percebo que o tempo não é um receptáculo de instantes, não é a distância entre um presente, um passado, um futuro. É o movimento interno dos entes para reunirem-se consigo mesmos e para diferenciarem-se de si mesmos. Não estou no tempo mas sou temporal, porque o tempo é a produção do sentido e dos seus significados.O corpo tem lembranças: cheiros, toques, mudanças.O corpo tem como base a temporalidade. Quando vivencio o meu presente, ele se apresenta em uma situação na qual sinto, faço, penso. Quanto ao meu passado, percebo que as possibilidades existiam. Algumas se concretizaram, outras não. No presente sou capaz de perceber novas possibilidades. Aqui, há uma abertura. O meu futuro poderá ser se as possibilidades presentes se concretizarem. Quem pode controlar as diferentes formas de sentir? O que é o tempo senão o significado do que é vivenciado? Nossos tempos são diferentes porque somos singulares. Portanto, o bom senso é necessário quando se trata de dispor do tempo do outro. Alguns são velozes, outros muito lentos. Cada um no seu compasso.

domingo, 19 de agosto de 2012

Eu e os Outros

Morar dentro de nós e buscar-nos nos outros que estão fora, é uma tarefa  que exige loucura e lucidez ao mesmo tempo. Loucura porque muitas vezes é preciso romper com tudo que se é, para compreender o outro. Lucidez porque ao voltar , a visão do que foi deixado na partida de encontro com o outro torná-se confusa e nem sempre agradável. Algumas certezas sofrem abalos, algumas incertezas tomam um rumo inesperado, dando-nos a impressão de que não mais existimos e que teria sido melhor uma clausura permanente. Aí olhamos bem pra dentro de nós e começamos a nos reconhecer no que fora estava. Fazemos um passeio pela nossa história e várias faces vão surgindo. Aos poucos vamos nos recompondo e aliviando as perdas iniciais quando resolvemos morar , mesmo que por pouco tempo fora de nós. As surpresas continuam, quando nos reconhecemos mais e mais nos outros. Esse reconhecimento muitas vezes está nas diferenças e não nas semelhanças. O outro nos recria, nos faz nascer de novo.O sujeito não está mais centrado no "Eu penso", nem no Ser, nem na dúvida, mas descentrado pela alteridade do outro. Não se trata mais de uma questão de "Eu penso, logo existo", mas sim eu existo no outro e o outro existe em mim.E essa existência nos indica o caminho da responsabilidade na construção de uma vida onde se possa compartilhar forças e fragilidades, encantos e desencantos. Diferentes pontos e diferentes linhas devem nos permitir morar dentro de nós mesmos, e sair vez por outra, não nos tornando reféns, já que morar em nós mesmos, deve nos permitir um sentimento de liberdade e prazer. 

domingo, 12 de agosto de 2012

Ser pai

Ser pai não é tarefa fácil, ainda  mais quando se é pai e mãe ao mesmo tempo. É tarefa que exige decisão, empenho com o que a vida nos apresenta. Não é uma questão de gênero, mas de amor. Não é uma questão de saber como caminhar, mas de muitas vezes ser o próprio caminho.É se perceber no filho e deixar que ele se perceba em você. É adiar compromissos que pareciam ser inadiáveis e fomentar competências cotidianas. A construção é muitas vezes lenta, outras vezes acelerada, dependendo do pai que se quer ser. É preciso porém , que a intensidade do que é vivido tenha o significado de humanidade. A descoberta é feita dia após dia, numa incansável vontade de acerto. Não existe uma verdade pronta, absoluta, assim como é a vida; constituída por dores e prazeres, erros e acertos, noites e dias. O importante é que o nosso desejo paterno descubra o equilíbrio necessário para as perguntas que nos são feitas. Essas perguntas se modificam com o tempo e as nossas respostas muitas vezes precisam ser revistas considerando-se a faixa etária do nosso filho e  as mudanças sociais. Não podemos desconhecer que somos seres históricos, que a realidade é processual, dando-nos a impressão de instabilidade.É bom entendermos que existem questões que fundamentam esse processo, facilitando a superação de algumas angústias no decorrer dessa caminhada. É necessário encontrarmos um ponto de estabilidade na relação. Relação que deve ser baseada em valores éticos, em amor, propiciando dessa forma um elo de fortalecimento, que impeça o rompimento da relação em momentos de crise. Enfim , ser pai é entender que o filho vive em nós e fora de nós, e que essa vivência se faz mais saudável quando existe amor, respeito pelos distintos silêncios, busca por um constante diálogo e insistência em um infinito amor. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Por quanto tempo?

Quantas vezes me procurei olhando para o passado, tentando entender o presente, projetando-me para o futuro. Quantas vezes me perdi, outras vezes me achei: vezes tristes, algumas felizes e outras sem definição. Quantas vezes foi possível buscar-me em desejos ocultos, solitários, abandonados. Quanto tempo fiquei inerte? Quanto tempo passei esquecida de mim mesma? Onde foram parar aqueles sonhos combinados a uma certa realidade, construída de juventude, beleza, prazer? É como se eu pudesse ter todos os relógios esperando por mim. Algumas coisas porém, me fazem perceber o passar do tempo: não são as pequenas mudanças ocorridas no corpo. É um peso que me deixa apática, é uma falta de sorrisos fáceis, é um torpor  que me envolve a alma como se eu estivesse anestesiada. É essa rotina, essa falta de novidades. Essas obrigações que me são impostas e que não me deixam alternativas. É o corre corre dessa vida louca. É você que na verdade espero, mas não sei de onde virá.

Texto produzido em 2002

Existência

Sempre pedem muito daquilo que não somos
Sempre dispensam muito daquilo que somos
Não somos o que nos é pedido,
Muito menos deixamos de ser o que nos é dispensado.
Somos qualquer coisa ou coisa nenhuma
Iguais nas nossas diferenças
Igualmente diferentes em diferentes faces.
Por isso não cobrem o que em mim não existe
Não queiram fazer-me segundo suas aspirações ideológicas
Deixem-me ser, e já fazem assim muito por mim.

domingo, 5 de agosto de 2012

Um pouco de Freud

Hoje me ergo e me nego;
Há uma constante briga entre o id, o ego e o super-ego.
Quem dera eu achasse um jeito de ir até o inconsciente,
E no divã dessa vida perceber o sol nascente.
Isso sim me assombra e deslumbra; saber que o sol nascente
Não passa de uma penumbra.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O que nos faz humanos?

Ando pensando muito sobre o que de fato move o homem. O que nos torna tão diferentes e ao mesmo tempo tão próximos dos irracionais. É fácil compreender alguns conceitos quando bem elaborados, reconhecidos pelo meio acadêmico, e aceito até por algumas pessoas que de tão primitivas se diziam incapazes de compreender ou fazer algum tipo de abstração.Não estou aqui menosprezando as pessoas que conservam em si uma certa originalidade, muito pelo contrário, estou reconhecendo a força de alguns conceitos que de tanto tratados, terminam por nos "engessar" de forma irremediável. Para Sartre, um dos mais populares representantes do existencialismo francês, só o ser humano é um "ser -para-si", aberto à possibilidade de construir ele próprio sua existência, enquanto os animais são em "em-si", por não serem capazes de se colocar "do lado de fora" para se auto-examinarem. Os animais são o que são, têm uma essência, enquanto no ser humano "a existência precede a essência". Ou seja: somos o que fazemos. Somos o que vivenciamos, somos os únicos capazes de irmos adiante, planejarmos o futuro, pensarmos inclusive na morte.Mas porque será que ao fechar os olhos e lembrar do meu cachorro, mesmo sendo cientista social e considerando questões que são próprias do homem, tenho a sensação de que aquele olhar me via, enquanto outros tantos humanos não me veem. Aquela corrida ao meu redor quando eu chegava em casa me dizia muito mais que algumas falas perdidas, sem sentido. Aquele olhar amistoso e leal me fazia muitas vezes encontrar meu lugar no mundo. Quero deixar claro que esses questionamentos são importantes para que eu possa situar a minha subjetividade e para que eu possa perceber que a consciência da existência abre caminhos de reflexão que desnaturalizam o lugar de seres considerados sem importância, mas que nos fazem  compreender o sentido de um aconchego.

domingo, 29 de julho de 2012

O PODER DE UM SÓ DIA?

Outubro está bem próximo e com ele novas e velhas decisões. Novas, porque a realidade é processual e portanto exige de nós um comportamento propiciador de mudanças inauguradoras de uma melhor qualidade de vida para todos os municípios. Velhas, porque esquecendo-nos de tantos erros cometidos por alguns representantes municipais(prefeitos e vereadores), preferimos não sentir as dores causadas por representantes sem o menor compromisso com a população e continuamos como que imunes à tanta irresponsabilidade. É costumeiro ouvirmos que isso faz parte da política. Essa afirmação me deixa muito irritada e ao mesmo tempo me faz pensar a questão do poder na sociedade e de que forma tal poder está distribuído.  Conforme assinalou o filósofo político italiano Norberto Bobbio, o conceito moderno de política está estreitamente ligado ao poder. O poder econômico, o poder ideológico, o poder político. Como se dá o poder do homem sobre outros ? Como é possível se produzir efeitos desejados? Qual seria o poder mais eficaz?  São questionamentos importantes num momento onde somos bombardeados de promessas, de projetos que não sairão das gavetas ou dos computadores. Precisamos analisar as propostas concretamente. Sabemos que a paixão, a empolgação por alguns candidatos muito bem orientados, nos impedem, como uma cortina de fumaça, de perceber os verdadeiros interesses em questão. Mas se o poder permeia toda a sociedade e se fazemos parte da mesma , temos o poder de interferir no processo político, já que vivemos em uma democracia(pelo menos formal), e podemos também de forma direta, indicar quem vai nos representar . Vale salientar que como se expressava o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht: não digam nunca: isso é natural diante dos acontecimentos de cada dia... numa época em que reina a confusão. Em que o arbitrário tem força de lei. Em que a humanidade se desumaniza. Eu diria também: em que aqueles que indicamos para nos representar nos esquecem, usurpam o poder sagrado de cada cidadão de se perceber, pelo menos em um momento como partícipe das decisões tomadas em prol de sua cidade. 

domingo, 22 de julho de 2012

IDENTIDADE


Há alguns dias precisei de um novo RG(mais conhecido como carteira de identidade). Foi bem interessante, já que estava em Iguatu para resolver algumas pendências cotidianas e o tempo de que dispunha era pouco. Fui ao local indicado e constatei a eficiência do serviço prestado. Mas o interessante não vem de tal eficiência, o que até poderia ser, levando-se em conta as dificuldades acarretadas pela burocracia brasileira. O interessante foi a dificuldade para "registrar" minhas impressões digitais. Como a temperatura estava alta e o meu estresse era grande em função do pouco tempo a ser administrado, comecei a suar e as minhas mãos deveriam estar aptas à receber aquela nova tecnologia. Como passei dos quarenta anos, na época em que fui tirar minha identidade, os dedos eram embebidos numa espécie de graxa o que me dava a verdadeira dimensão de como seria difícil mudar qualquer coisa a partir daquele momento, pois chegando em casa nem o sabão mais eficiente conseguiu livrar meus dedos de tal substância. De volta à Fortaleza vim refletindo sobre o que vem a ser identidade e brincando com um companheiro de viagem falava de que eu era tão difícil de ser decifrada que até as minhas impressões digitais escapavam da nova tecnologia. Como cientista social, faço uma analogia sobre as digitais "tiradas" no passado e as "tiradas" no presente. As digitais são as mesmas, mas a pessoa não. Assim é a nossa identidade. Construímos e desconstruímos diariamente a nossa visão de mundo, do que nos rodeia. "A identidade é definida como algo que traduz, por um lado, a permanência do objeto único ou do seu atributo, através das mudanças, que produzem em si como em seu redor; por outro lado, exprime a similitude de dois objetos distintos ou de tais ou quais aspectos de seus atributos". Penso que identidade e humanização caminham juntas, e que a construção do humano só é possível com a condição de que tenhamos a cultura e o tempo como uma maneira de significar a realidade. Como as digitais imprimem unicidade, o sujeito ao apropria-se da história imprime a esta sua marca.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Agentes de saúde


O tempo é um verdadeiro professor na arte de colocar ou tirar do lugar pensamentos bons ou não. Hoje tive o prazer de ouvir agentes de saúde com as quais trabalhei, quando coordenadora do PSF, em Cedro. Fiquei feliz por constatar que uma convivência saudável, carregada de entusiasmo, compromisso com o indivíduo e a coisa pública, nos oferece o suporte necessário para as lutas cotidianas. Muito aprendi e acredito que também ensinei. As palavras ouvidas me deram mais uma vez a certeza que procurar dar o melhor de si não é em vão.Buscar em cada pessoa os desejos escondidos, transformá-los em práticas propiciadoras de qualidade de vida é possível, levando-se em conta as limitações materiais, cognitivas, sociais. Tenho por todos os agentes de saúde com os quais trabalhei um grande respeito, pois desde o início-1993 em Iguatu e de forma intensa de 97 a 2005 em Cedro, pude avaliar a importância desses profissionais na condução, na participação de ações que contribuem para a qualidade de vida da população.Aqui não estou desmerecendo o trabalho de todos os membros da equipe do PSF, mas não posso deixar de registrar o grande papel desempenhado por essas e esses guerreiros que fazem parte de um universo bem maior do que é imaginado pela maioria das pessoas ligadas ou não aos sistemas de saúde. Ser agente de saúde é antes de mais nada ser agente de mudança. É saber como diz uma música, a dor e a delícia de ser o que é. Dor, quando ao lidar com tantos problemas se percebe impotente e se angustia por não poder resolvê-los. Alegria, quando desafia as impossibilidades e cria saídas para problemas que pareciam ser obstáculos intransponíveis. Ser agente de saúde, é ser sujeito e objeto de ações, já que ao viver nas áreas onde atua o mesmo participa de todo o processo de construção social. Ser agente de saúde é sentir que o sol não está tão quente a ponto de queimar seus "miolos" e que o frio não pode congelar seu coração. 

Ser agente de saúde é viver na corda bamba dos comportamentos instáveis. É lidar com o que tem uma fé intensa e com aquele que é ateu. É lidar com todas as faixas etárias e com toda a complexidade que estas acarretam. É lidar inclusive com quem ainda está no útero da mãe. Enfim ser agente de saúde é tarefa difícil e de muita responsabilidade. Mas não se engane : agente de saúde não é só agente, é gente e merece de toda a população o prestígio que ao mesmo deve ser conferido. Confira se você está colaborando com o seu agente de saúde e procure apoiá-lo quando ele não estiver em um dia tão bom, afinal todos vocês fazem parte de uma mesma comunidade e muitas vezes de uma mesma família, com todas as dores e as delícias que isso possa conter.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

''Cada um no seu quadrado"

Durante toda a minha caminhada como professora de sociologia, procurei aprender com os meus alunos qual o verdadeiro sentido do processo de aprendizagem. Muitas vezes me deparei com situações impositivas , carregadas de vícios hierárquicos os quais tinham como proposta inicial o esquecimento de que  a escola é o local do trabalho docente, e que a organização escolar é também espaço de aprendizagem da profissão, na qual o professor põe em prática suas convicções, seu conhecimento da realidade, suas competências pessoais e profissionais, tendo muitas vezes que aprender novos saberes e trabalhar a desconstrução de outros. Percebi que a sala de aula não pode ser mensurada em um espaço físico, considerada em um quadrado que mais aprisiona que liberta. Professores e alunos, fazem parte de uma realidade maior, exigindo um processo dialógico constante, o qual supõe a compreensão dos significados.Muitas vezes é preciso descentralizar o olhar para nos perceber e perceber o outro. Algumas vezes consegui, outras não.Uma coisa é certa: busquei em cada aluno o sentido do humano, propiciei em vários momentos o início de uma atitude crítica frente à realidade e as teorias que eram analisadas.Sabedora das dificuldades dos alunos muitas vezes me angustiei por entender que não podíamos abrir mão de leituras importantes e nem tampouco fazer de conta que o conteúdo programático estava sendo aplicado de maneira  
orientadora à ação. Sofri e me deliciei com todos os desafios inerentes à descoberta de novos caminhos e novas caminhadas. O importante é que não me aprisionei e não me ''enquadrei' em posicionamentos absolutos, entendendo que o aluno não é um consumidor passivo de conhecimento, e sim um produtor ativo de significados.

Presença

Sua presença vem lembrar-me que a distância entre nós continua. É paradoxal, mas a sua ausência torna-o mais presente, porque distante, a mim é permitido pensar e fazer de nós tudo que o pensamento me possibilita.

Escrito em 2000

Bem querer

Quero ver você
Você com seu afago
Eu com minha sede
Você com seu abraço
Eu pedindo amor
Você dando paixão
Eu querendo respeito
Você tendo tesão
Eu dizendo não
você dizendo sim
Eu querendo aguardar
Você querendo já
Mas eu peço amor
Você pede paixão
Ou eu guardo o que sinto
Quando você diz não?
Mas eu vou decidir
Ou eu vou esperar?
Será que vale apena
Querer poder ficar?
Será que não consinto
Esse seu grito louco
Ou será que apenas sinto
E amanhã resolvo?
Pobre dos mortais
Quer mais e subtrai
Divide quando quer somar
Nega quando quer amar.

existência

Sempre pedem muito daquilo que não somos...
Sempre dispensam muito daquilo que somos...
Não somos o que nos é pedido
e muito menos deixamos de ser o que nos é dispensado.
Somos qualquer coisa.
Iguais nas nossas diferenças,
Igualmente impotentes em diferentes faces.
Por isso não cobrem o que não tenho,
e não queiram fazer-me segundo as suas orientações ideológicas.
Deixem- me ser , e já fazem assim muito por mim.

sábado, 30 de junho de 2012

DESCAMINHO

Quantas vezes me procurei olhando para o passado, tentando entender o presente, projetando-me para o futuro . Quantas vezes me perdi, outras me achei : muitas vezes feliz e outras sem definição. Quantas vezes foi possível buscar-me em desejos ocultos, solitários, abandonados? Quanto tempo fiquei inerte? Quanto tempo passei esquecida de mim mesma? Onde foram parar aqueles sonhos combinados a uma certa realidade, construída de juventude, de beleza, de prazer? Como pude chegar aqui? É como se eu tivesse todos os relógios esperando por mim. Algumas coisas porém, me fazem perceber o passar do tempo: não são as pequenas mudanças ocorridas no corpo. É uma carga que me deixa apática. É uma falta de sorrisos fáceis. É uma estranheza que me envolve como se eu estivesse  me perdido de mim mesma. É essa rotina, essa falta de novidades. Essas obrigações que me são impostas e que não me deixam alternativas. É o corre corre dessa vida louca. É você que na verdade espero, mas que não sei de onde virá.

Texto de 1996